Vou compartilhar com vocês a minha história.
Melhor, a nossa história - Minha, do meu esposo e Sophia, nosso tão amado anjo.
Descobri a gravidez em Agosto de 2015. E consegui realizar a primeira consulta
próximo aos 3 meses. Diante disso o médico me orientou a fazer a morfológica só
aos 5 meses. No tempo preciso, fiz a morfológica que assegurava que o bebê
estava bem, e que nada havia fora do "normal". A ultrasson apenas me
deu a certeza de que estava esperando uma menina, contrariando a ultra que havia
feito na consulta, onde o médico havia me dito que estava esperando um menino.
Foi uma surpresa a mudança, porém, o que importava mesmo é que o bebê estava
bem e prontamente já sonhávamos com nossa menininha. E o amor ia se tecendo a
cada grama aumentada, a cada chute, a cada sinal da presença daquele serzinho
aqui - dentro de mim-, ali - em meio a nós. A gravidez andava tranquila. Nada
fora do comum. As mudanças começaram ao 7º mês, quando o médico desconfiou que
o bebê não estava crescendo devidamente, e me pediu para fazer uma dopller.
Assim, o fiz, e foi constatado que o bebê estava abaixo do peso para idade
gestacional. Verificou-se ainda a necessidade de tomar precauções quanto a
alimentação devido a identificação de possibilidade de pré-eclâmpsia. Causou
preocupações, mas estava crente que me dedicando a uma alimentação mais
regulada unido aos cuidados de prevenção da pré-eclâmpsia tudo ia ficar certo.
Aí, o médico passou mais uma dopller no 8º mês, foi quando o meu chão que parecia
tão sustentável começou a desmoronar: O médico identificou algo de errado no
coração do bebê, me pediu mais 3 retornos para confirmação e por fim assegurou
que havia uma cardiopatia, que só podia ser confirmada pelo ecocardiograma
fetal. Através da enfermeira que me acompanhava consegui a eco em Maceió, e
infelizmente veio a comprovação da cardiopatia, que era grave e não dispensava
a realização de cirurgia que só poderia ser feita a partir de 3 meses de
nascida. A partir daí começamos a buscar informações sobre bebês cardiopatas e
cirurgias. A gestação ia se passando e chegou o sonhado dia: 10/05/16 às
10:50h, Sophia veio ao mundo com 41 semanas de gestação, pesando 1.685kg e 41
cm, pequeninha, magrinha...ao contrário de todos aqueles bebês que via ao meu
redor tão fortes. A cardiopatia não permitiu que ela ficasse em meus braços e
logo foi destinada a UTI. Apesar de ser doído não tê-la nos braços, estava
crente que passaria no máximo três dias no hospital e iria para casa, para se
amamentar e ganhar os pesinhos necessários para cirurgia, suas malas com suas
roupinhas ali eram a comprovação dessa crença. Só que mais surpresas estavam
por vir. Fui vê-la e notei que apresentava algumas características físicas que
também necessitavam de atenção, tive medo, e fugi até onde pude de comprovar
que de fato havia algo mais. Até quando não deu mais para ignorar, a médica de
plantão me alertou sobre a necessidade de fazer cariótipo, pois, era verificado
que minha pequena tinha a Síndrome de Edwards - trissomia do cromossomo 18
(síndrome rara que possui baixa expectativa de vida devido sua afetação em
órgãos vitais), daí entendi a causa da cardiopatia, e ali me vi perdida, sem
sustento, confusa, com medo, mas ainda cheia de amor. As perspectivas para
síndrome não eram boas. E diante do inevitável, eu e meu esposo reunirmos
forças para não desperdiçar o tempo que tínhamos com ela. E decidimos viver do
hoje, de cada dia, ao menos lutávamos para ser assim. A síndrome que tanto me
amedrontava deixou de ser tão importante, porque eu a olhava e via que o que
ela precisa era apenas do amor que eu tinha para dar, como qualquer outra
criança. Sophia veio sem exigências, sem presunções, veio e me ensinava que a
vida se desdobra na simplicidade. Via vários relatos sobre a T18 e via crianças
maiores com a síndrome, apesar de ser raro. E sonhávamos e projetávamos como
poderíamos ajudá-la, o que poderíamos fazer para propiciar seu desenvolvimento,
sonhava imaginando suas superações. Mas, a cardiopatia era o maior desafio,
fragilizava seu pulmão, lhe dificultava o ganho de peso tão necessário para se
submeter à cirurgia. Porém, minha menina já demonstrava sua força, com uma
semana deixou o respirador e respirava sem ajuda do aparelho, parecia
tranquila. No entanto, com 15 dias de nascida, perdeu mais 65g além das 300g
que havia perdido na primeira semana, neste dia teve uma crise, refluxo,
apnéia, dentre outros acometimentos e a vi fragilizada. Pensei que ia partir, e
fui ao seu encontro mais uma vez, afagá-la. E ela superou, se alimentava por
sonda, a respiração sempre ofegante, mas indicava melhoras. E começou a ganhar
graminhas "que alegria 20g!!!", foi comemorado como se fosse 1kg,
cada pequeno ganho importava. A dietinha aos poucos ia sendo aumentada. E
chegou ao ganho de 60g. Quando num domingo ao visitá-la fui comunicada que
estava apresentando anemia e que precisava de sangue, e outros problemas foram
a afetando, na terça-feira daquele mesma semana quando fomos visitá-la como
todos os dias, o médico pediu que antes de vê-la fossemos falar com ele, e ele
foi doce, humano e claro quanto a situação da minha menina. E ali, doia o
limite que a incubadora me imponha - não podia sequer pegá-la nos braços e
apertá-la contra o peito afirmando o amor que sentia. E vinhemos para casa,
decididos a batizá-la no dia seguinte. Naquela noite falei com Deus e pedi para
aliviar a dor da minha pequena. E naquela madrugada, 22/06/16 às 12:30h recebi
um telefonema que deixou minhas pernas sem resistência, devíamos ir ao hospital
com urgência. E foi o momento em que o abraço foi possível, lembro que tentei
desenhar seus traços em minha mente, e a apertei nos braços já sem vida numa
tentativa de eternizar aquele afago em mim. A falta de não ter podido abraçá-la
enquanto viva é uma ausência doída e persistente dentro de mim. Mas, a fé de
que irei reencontrá-la me faz crer que esse abraço ainda será possível. E posso
dizer que minha vida foi ressignificada pelo amor e a força que Sophia trouxe
para mim. Nós tivemos nossa história de amor. Tempo? 9 meses, mais 42 dias.
Como costumo dizer, para alguns pode ser pouco, mas para ela sei que foi muito,
pois, foi todo o tempo que teve. A amei a cada segundo, a cada dia, e vivi o
que pude viver com ela. Ela nunca veio para casa, mas sinto a ausência dela em
cada canto. Acho que faltas sempre vão existir. Mas, sei que ela se foi com a
certeza de que o tempo todo foi amada. Partiu me fornecendo muitas lições,
incitando-me a me desprender das funcionalidades que por vezes
"impomos" aos filhos quando com eles sonhamos. Entendi, que o amor
também possibilita o outro ser o que é, e ser amado apenas por isso. Se foi e
ao mesmo tempo fica aqui, dentro de mim, me direcionando a valorizar o que há
de mais essencial na vida: as pessoas.
Minha doce Sophi, como sou grata pela vida que me deu ao habitar em mim!
Materializou diante dos meus olhos o sagrado da vida. E me fez perceber que
dentro de mim há muito amor para dar.
O quarto está vazio, mas o coração ainda permanece preenchido de amor. Assim,
quero finalizar com uma frase que chegou até a mim que me foi muito significativa,
ao me permitir uma leitura da dor que tenho experenciado, a dor que me cala e
ao mesmo tempo que grita dentro de mim: "O AMOR É UMA FORÇA QUE NOS FAZ IR
ALÉM DOS NOSSOS LIMITES HUMANOS. A SAUDADE É UM EFEITO COLATERAL DO AMOR."
(Pe. Joãozinho)
Há quem pense que Sophia nasceu para morrer.
Eu? Acredito que ela nasceu para viver em mim.