quarta-feira, 12 de julho de 2017

Aurora

       Esse texto eu escrevi logo após Aurora partir, foi no grupo Do Luto à Luta que encontrei apoio e pude compartilhar nossa história de amor. A dor pela perda da minha filha, mobilizou em mim uma força que jamais pudesse pensar em ter, a partir daí tive o desejo de criar um grupo de apoio à perda gestacional e neonatal em Alagoas chamado Amanhecer,  a fim conhecer outras famílias, para então podermos nos unir e juntas nos apoiar.  
               


Meu nome é Márcia, tenho 36 anos e sempre sonhei ser mãe, sou casada há 9 anos, meu marido e eu não tivemos filhos antes porque estávamos esperando o momento certo, melhores condições financeiras, enfim… Em 2014 decidimos que já estava na hora de ter mais um membro na família, afinal a casa parecia tão vazia, sentimos a necessidade de ter um filho para poder compartilhar nossas experiências, ensinar as coisas bonitas que existem no mundo, que apesar de tudo vale a pena viver. Depois de um ano de tentativas descobrimos em julho de 2015 que eu estava grávida, no início não acreditamos, pensei que eu estava com algum tipo de virose, pois eu continuava “menstruando”, mas após uma bateria de exames e de ter descartado tudo, fizemos um beta que deu positivo, repetimos o exame e realmente estávamos grávidos! Finalmente! Foi um misto de alegria, medo, incerteza, queríamos muito, mas ficamos inseguros, será que conseguiríamos cuidar de uma criança? Não tínhamos nenhuma experiência! Resolvemos dar a notícia para os nossos pais quando eu tivesse completado 3 meses, pois eu tive que usar progesterona no início, porque o que eu pensava que fosse menstruação na realidade era sangramento. Após uma viagem que fizemos para comemorar o meu aniversário contamos para todos, divulgamos em todas as redes sociais, queríamos compartilhar nossa alegria.
E a cada semana nosso querido bebê crescia, foram muitas náuseas, noites sem dormir, mas tínhamos a certeza que tudo isso valeria a pena, pois chegaria a hora de ver o rostinho mais lindo do mundo. Em Setembro de 2015 descobrimos que era uma menina, meu marido ficou surpreso! Seria pai de uma princesa! Já ficou imaginando os laços, os vestidinhos e que ela cresceria e teria namorados kkkk… Agora vinha a parte mais difícil, o nome! Desde o início resolvemos que nossa filha teria nome de princesa e após assistir o filme da Bela Adormecida e saber que Aurora significa “início de um novo dia”, “nascer do sol”, “aquela que brilha como o sol”, ficamos encantados pois tinha tudo a ver com nossa história! Nos casamos em uma manhã ensolarada de domingo ao ar livre e na nossa lua de mel, acordávamos de madrugada para ver o sol nascer. Nossa filha seria Aurora! Pois este era o início de uma nova fase em nosso casamento e ela traria mais luz para as nossas vidas! E todos estavam esperando Aurora chegar, foram muitos paparicos, presentes, vestidinhos, lacinhos, nosso mundo agora girava em torno da nossa princesa.
Minha gravidez foi muito tranquila, nós estávamos com saúde e ela crescia e ganhava peso. Eu estava com um pouco de medo, afinal ela ainda não havia se encaixado, mas todos diziam que era normal, minha princesa gostava de ficar sentadinha 🙂 Deixamos tudo pronto para a sua chegada, o berço estava montado, o quartinho decorado e as malas da maternidade já estavam prontas, todas as roupinhas já estavam lavadas, passadas e guardadas em saquinhos individuais.
Com 38 semanas de gestação eu estava sentindo algumas cólicas, mas nada que chamasse a atenção, no final de semana eu não a senti mexer muito, imaginei que fosse porque ela estava grande e com pouco espaço para se movimentar, até que no dia 07/03/2016 na minha última consulta do pré natal, quando minha médica iria marcar a data do parto, ela não ouviu os batimentos cardíacos de Aurora, naquela hora eu gelei, senti todo o meu corpo arrepiar. Minha médica me acalmou, disse que estava tudo bem, que poderia ser um problema no aparelho de sonar dela e nos encaminhou para a emergência obstétrica, somente no segundo hospital é que fui atendida. Durante o percurso, meu marido e eu nos perguntávamos o que poderia estar acontecendo, ficamos atordoados, será que estava tudo bem? Choramos o caminho inteiro imaginando o pior e nos perguntando o que tínhamos feito de errado. Na emergência, a médica do plantão também não ouviu os batimentos e pediu uma ultrassom e mais uma vez a espera e a incerteza de não saber o que estava acontecendo dilacerava nossos corações, até que durante o exame já com outra médica foi constatado que o coração de Aurora já não batia mais. A médica ficou calada não me falou nada, só olhou para o meu marido e balançou a cabeça. Naquela hora eu senti que uma parte de mim havia morrido. Na minha mente cada momento da minha gestação se passou como em um filme, o primeiro dia que eu senti ela se mexer, o ensaio que fizemos na semana anterior no nascer do sol na praia de Jatiúca, os carinhos que o meu marido fazia na minha barriga, as conversas e as músicas que eu cantava pra ela.. Eu não acreditei! Perguntei à médica, por favor, me diga, o coração dela bate? E ela falou, não há batimentos, sinto muito. Eu chorei, como chorei! Não parecia real! O que foi que eu fiz? Que mãe sou eu? Será que eu deixei de fazer alguma coisa, será que eu fiz algo de errado? Não fui capaz de proteger a minha filha! Meu Deus! Foi o pior dia de nossas vidas! Ligamos para a minha médica, mas infelizmente ela tinha viajado, foi muito triste! No momento que eu mais precisei dela ela não estava comigo! Naquele mesmo dia eles queriam que eu decidisse como minha filha seria retirada de mim, sugeriram a indução do parto normal. Eu fiquei com medo, como teria condições de passar por todo o processo do parto e no final não poder ter minha filha? Me recusei! Nos mandaram de volta pra casa para dormir, descansar e pensar melhor, me pediram para retornar no dia seguinte. Não consegui dormir; no outro dia fui atendida por outros médicos, homens que eu nunca havia visto na vida! Senti – me só, abandonada por minha obstetra. Tive vontade de morrer. Eles ficaram tentando entender o que havia acontecido, falaram em diabetes, circular de cordão, trombofilia, hipotireoidismo, várias hipóteses para explicar o inexplicável.
O fato é que no dia 08/03/2016, dia internacional da mulher, eu tive que ser forte, como jamais havia sido,  eu, mulher, havia perdido a mulher da minha vida, a minha princesa, a minha Aurora! Não pude me despedir dela, não a abracei, não senti o seu cheirinho, não ouvi seu choro e não pude amamentá-la. Minha Aurora, assim como o sol nasce e se põe no mesmo dia, chegou e se foi. Naquele dia eu tive que lidar com os sentimentos de vida e morte. Vida porque gestação é vida e morte porque não pude ter minha filha tão amada em meus braços. Faz 5 meses e 9 dias que ela se foi de volta pra o céu e hoje eu percebo que naquele dia 08/03/2016, dia internacional da mulher, eu renasci, pois Aurora significa “nascer de um novo dia” e eu jamais serei a mesma mulher. Agradeço a ela por ter me ensinado a sentir o amor de mãe, Aurora sempre será a minha primeira filha, jamais a esquecerei! Te amo filha!

Márcia Torres Santos

Texto publicado em 2016 no site: 

https://dolutoalutaapoioaperdagestacional.wordpress.com/2016/09/21/aurora-de-nossas-vidas/

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