Meu nome é
Márcia, tenho 36 anos e sempre sonhei ser mãe, sou casada há 9 anos, meu marido
e eu não tivemos filhos antes porque estávamos esperando o momento certo,
melhores condições financeiras, enfim… Em 2014 decidimos que já estava na hora
de ter mais um membro na família, afinal a casa parecia tão vazia, sentimos a
necessidade de ter um filho para poder compartilhar nossas experiências,
ensinar as coisas bonitas que existem no mundo, que apesar de tudo vale a pena
viver. Depois de um ano de tentativas descobrimos em julho de 2015 que eu
estava grávida, no início não acreditamos, pensei que eu estava com algum tipo
de virose, pois eu continuava “menstruando”, mas após uma bateria de exames e
de ter descartado tudo, fizemos um beta que deu positivo, repetimos o exame e
realmente estávamos grávidos! Finalmente! Foi um misto de alegria, medo,
incerteza, queríamos muito, mas ficamos inseguros, será que conseguiríamos
cuidar de uma criança? Não tínhamos nenhuma experiência! Resolvemos dar a
notícia para os nossos pais quando eu tivesse completado 3 meses, pois eu tive
que usar progesterona no início, porque o que eu pensava que fosse menstruação
na realidade era sangramento. Após uma viagem que fizemos para comemorar o meu
aniversário contamos para todos, divulgamos em todas as redes sociais,
queríamos compartilhar nossa alegria.
E a cada
semana nosso querido bebê crescia, foram muitas náuseas, noites sem dormir, mas
tínhamos a certeza que tudo isso valeria a pena, pois chegaria a hora de ver o
rostinho mais lindo do mundo. Em Setembro de 2015 descobrimos que era uma
menina, meu marido ficou surpreso! Seria pai de uma princesa! Já ficou
imaginando os laços, os vestidinhos e que ela cresceria e teria namorados kkkk…
Agora vinha a parte mais difícil, o nome! Desde o início resolvemos que nossa
filha teria nome de princesa e após assistir o filme da Bela Adormecida e saber
que Aurora significa “início de um novo dia”, “nascer do sol”, “aquela que
brilha como o sol”, ficamos encantados pois tinha tudo a ver com nossa
história! Nos casamos em uma manhã ensolarada de domingo ao ar livre e na nossa
lua de mel, acordávamos de madrugada para ver o sol nascer. Nossa filha seria
Aurora! Pois este era o início de uma nova fase em nosso casamento e ela traria
mais luz para as nossas vidas! E todos estavam esperando Aurora chegar, foram
muitos paparicos, presentes, vestidinhos, lacinhos, nosso mundo agora girava em
torno da nossa princesa.
Minha
gravidez foi muito tranquila, nós estávamos com saúde e ela crescia e ganhava
peso. Eu estava com um pouco de medo, afinal ela ainda não havia se encaixado,
mas todos diziam que era normal, minha princesa gostava de ficar sentadinha 🙂 Deixamos tudo pronto para a sua chegada, o berço
estava montado, o quartinho decorado e as malas da maternidade já estavam
prontas, todas as roupinhas já estavam lavadas, passadas e guardadas em
saquinhos individuais.
Com 38
semanas de gestação eu estava sentindo algumas cólicas, mas nada que chamasse a
atenção, no final de semana eu não a senti mexer muito, imaginei que fosse
porque ela estava grande e com pouco espaço para se movimentar, até que no dia
07/03/2016 na minha última consulta do pré natal, quando minha médica iria
marcar a data do parto, ela não ouviu os batimentos cardíacos de Aurora,
naquela hora eu gelei, senti todo o meu corpo arrepiar. Minha médica me
acalmou, disse que estava tudo bem, que poderia ser um problema no aparelho de
sonar dela e nos encaminhou para a emergência obstétrica, somente no segundo
hospital é que fui atendida. Durante o percurso, meu marido e eu nos perguntávamos
o que poderia estar acontecendo, ficamos atordoados, será que estava tudo bem?
Choramos o caminho inteiro imaginando o pior e nos perguntando o que tínhamos
feito de errado. Na emergência, a médica do plantão também não ouviu os
batimentos e pediu uma ultrassom e mais uma vez a espera e a incerteza de não
saber o que estava acontecendo dilacerava nossos corações, até que durante o
exame já com outra médica foi constatado que o coração de Aurora já não batia
mais. A médica ficou calada não me falou nada, só olhou para o meu marido e
balançou a cabeça. Naquela hora eu senti que uma parte de mim havia morrido. Na
minha mente cada momento da minha gestação se passou como em um filme, o
primeiro dia que eu senti ela se mexer, o ensaio que fizemos na semana anterior
no nascer do sol na praia de Jatiúca, os carinhos que o meu marido fazia na
minha barriga, as conversas e as músicas que eu cantava pra ela.. Eu não
acreditei! Perguntei à médica, por favor, me diga, o coração dela bate? E ela
falou, não há batimentos, sinto muito. Eu chorei, como chorei! Não parecia
real! O que foi que eu fiz? Que mãe sou eu? Será que eu deixei de fazer alguma
coisa, será que eu fiz algo de errado? Não fui capaz de proteger a minha filha!
Meu Deus! Foi o pior dia de nossas vidas! Ligamos para a minha médica, mas
infelizmente ela tinha viajado, foi muito triste! No momento que eu mais
precisei dela ela não estava comigo! Naquele mesmo dia eles queriam que eu
decidisse como minha filha seria retirada de mim, sugeriram a indução do parto normal.
Eu fiquei com medo, como teria condições de passar por todo o processo do parto
e no final não poder ter minha filha? Me recusei! Nos mandaram de volta pra
casa para dormir, descansar e pensar melhor, me pediram para retornar no dia
seguinte. Não consegui dormir; no outro dia fui atendida por outros médicos,
homens que eu nunca havia visto na vida! Senti – me só, abandonada por minha
obstetra. Tive vontade de morrer. Eles ficaram tentando entender o que havia
acontecido, falaram em diabetes, circular de cordão, trombofilia,
hipotireoidismo, várias hipóteses para explicar o inexplicável.
O fato é que
no dia 08/03/2016, dia internacional da mulher, eu tive que ser forte, como
jamais havia sido, eu, mulher, havia
perdido a mulher da minha vida, a minha princesa, a minha Aurora! Não pude me
despedir dela, não a abracei, não senti o seu cheirinho, não ouvi seu choro e
não pude amamentá-la. Minha Aurora, assim como o sol nasce e se põe no mesmo
dia, chegou e se foi. Naquele dia eu tive que lidar com os sentimentos de vida
e morte. Vida porque gestação é vida e morte porque não pude ter minha filha
tão amada em meus braços. Faz 5 meses e 9 dias que ela se foi de volta pra o
céu e hoje eu percebo que naquele dia 08/03/2016, dia internacional da mulher,
eu renasci, pois Aurora significa “nascer de um novo dia” e eu jamais serei a
mesma mulher. Agradeço a ela por ter me ensinado a sentir o amor de mãe, Aurora
sempre será a minha primeira filha, jamais a esquecerei! Te amo filha!
Márcia Torres Santos
Texto publicado em 2016 no site:
Texto publicado em 2016 no site:
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