domingo, 23 de julho de 2017

Sophia



       Vou compartilhar com vocês a minha história. Melhor, a nossa história - Minha, do meu esposo e Sophia, nosso tão amado anjo. Descobri a gravidez em Agosto de 2015. E consegui realizar a primeira consulta próximo aos 3 meses. Diante disso o médico me orientou a fazer a morfológica só aos 5 meses. No tempo preciso, fiz a morfológica que assegurava que o bebê estava bem, e que nada havia fora do "normal". A ultrasson apenas me deu a certeza de que estava esperando uma menina, contrariando a ultra que havia feito na consulta, onde o médico havia me dito que estava esperando um menino. Foi uma surpresa a mudança, porém, o que importava mesmo é que o bebê estava bem e prontamente já sonhávamos com nossa menininha. E o amor ia se tecendo a cada grama aumentada, a cada chute, a cada sinal da presença daquele serzinho aqui - dentro de mim-, ali - em meio a nós. A gravidez andava tranquila. Nada fora do comum. As mudanças começaram ao 7º mês, quando o médico desconfiou que o bebê não estava crescendo devidamente, e me pediu para fazer uma dopller. Assim, o fiz, e foi constatado que o bebê estava abaixo do peso para idade gestacional. Verificou-se ainda a necessidade de tomar precauções quanto a alimentação devido a identificação de possibilidade de pré-eclâmpsia. Causou preocupações, mas estava crente que me dedicando a uma alimentação mais regulada unido aos cuidados de prevenção da pré-eclâmpsia tudo ia ficar certo. Aí, o médico passou mais uma dopller no 8º mês, foi quando o meu chão que parecia tão sustentável começou a desmoronar: O médico identificou algo de errado no coração do bebê, me pediu mais 3 retornos para confirmação e por fim assegurou que havia uma cardiopatia, que só podia ser confirmada pelo ecocardiograma fetal. Através da enfermeira que me acompanhava consegui a eco em Maceió, e infelizmente veio a comprovação da cardiopatia, que era grave e não dispensava a realização de cirurgia que só poderia ser feita a partir de 3 meses de nascida. A partir daí começamos a buscar informações sobre bebês cardiopatas e cirurgias. A gestação ia se passando e chegou o sonhado dia: 10/05/16 às 10:50h, Sophia veio ao mundo com 41 semanas de gestação, pesando 1.685kg e 41 cm, pequeninha, magrinha...ao contrário de todos aqueles bebês que via ao meu redor tão fortes. A cardiopatia não permitiu que ela ficasse em meus braços e logo foi destinada a UTI. Apesar de ser doído não tê-la nos braços, estava crente que passaria no máximo três dias no hospital e iria para casa, para se amamentar e ganhar os pesinhos necessários para cirurgia, suas malas com suas roupinhas ali eram a comprovação dessa crença. Só que mais surpresas estavam por vir. Fui vê-la e notei que apresentava algumas características físicas que também necessitavam de atenção, tive medo, e fugi até onde pude de comprovar que de fato havia algo mais. Até quando não deu mais para ignorar, a médica de plantão me alertou sobre a necessidade de fazer cariótipo, pois, era verificado que minha pequena tinha a Síndrome de Edwards - trissomia do cromossomo 18 (síndrome rara que possui baixa expectativa de vida devido sua afetação em órgãos vitais), daí entendi a causa da cardiopatia, e ali me vi perdida, sem sustento, confusa, com medo, mas ainda cheia de amor. As perspectivas para síndrome não eram boas. E diante do inevitável, eu e meu esposo reunirmos forças para não desperdiçar o tempo que tínhamos com ela. E decidimos viver do hoje, de cada dia, ao menos lutávamos para ser assim. A síndrome que tanto me amedrontava deixou de ser tão importante, porque eu a olhava e via que o que ela precisa era apenas do amor que eu tinha para dar, como qualquer outra criança. Sophia veio sem exigências, sem presunções, veio e me ensinava que a vida se desdobra na simplicidade. Via vários relatos sobre a T18 e via crianças maiores com a síndrome, apesar de ser raro. E sonhávamos e projetávamos como poderíamos ajudá-la, o que poderíamos fazer para propiciar seu desenvolvimento, sonhava imaginando suas superações. Mas, a cardiopatia era o maior desafio, fragilizava seu pulmão, lhe dificultava o ganho de peso tão necessário para se submeter à cirurgia. Porém, minha menina já demonstrava sua força, com uma semana deixou o respirador e respirava sem ajuda do aparelho, parecia tranquila. No entanto, com 15 dias de nascida, perdeu mais 65g além das 300g que havia perdido na primeira semana, neste dia teve uma crise, refluxo, apnéia, dentre outros acometimentos e a vi fragilizada. Pensei que ia partir, e fui ao seu encontro mais uma vez, afagá-la. E ela superou, se alimentava por sonda, a respiração sempre ofegante, mas indicava melhoras. E começou a ganhar graminhas "que alegria 20g!!!", foi comemorado como se fosse 1kg, cada pequeno ganho importava. A dietinha aos poucos ia sendo aumentada. E chegou ao ganho de 60g. Quando num domingo ao visitá-la fui comunicada que estava apresentando anemia e que precisava de sangue, e outros problemas foram a afetando, na terça-feira daquele mesma semana quando fomos visitá-la como todos os dias, o médico pediu que antes de vê-la fossemos falar com ele, e ele foi doce, humano e claro quanto a situação da minha menina. E ali, doia o limite que a incubadora me imponha - não podia sequer pegá-la nos braços e apertá-la contra o peito afirmando o amor que sentia. E vinhemos para casa, decididos a batizá-la no dia seguinte. Naquela noite falei com Deus e pedi para aliviar a dor da minha pequena. E naquela madrugada, 22/06/16 às 12:30h recebi um telefonema que deixou minhas pernas sem resistência, devíamos ir ao hospital com urgência. E foi o momento em que o abraço foi possível, lembro que tentei desenhar seus traços em minha mente, e a apertei nos braços já sem vida numa tentativa de eternizar aquele afago em mim. A falta de não ter podido abraçá-la enquanto viva é uma ausência doída e persistente dentro de mim. Mas, a fé de que irei reencontrá-la me faz crer que esse abraço ainda será possível. E posso dizer que minha vida foi ressignificada pelo amor e a força que Sophia trouxe para mim. Nós tivemos nossa história de amor. Tempo? 9 meses, mais 42 dias. Como costumo dizer, para alguns pode ser pouco, mas para ela sei que foi muito, pois, foi todo o tempo que teve. A amei a cada segundo, a cada dia, e vivi o que pude viver com ela. Ela nunca veio para casa, mas sinto a ausência dela em cada canto. Acho que faltas sempre vão existir. Mas, sei que ela se foi com a certeza de que o tempo todo foi amada. Partiu me fornecendo muitas lições, incitando-me a me desprender das funcionalidades que por vezes "impomos" aos filhos quando com eles sonhamos. Entendi, que o amor também possibilita o outro ser o que é, e ser amado apenas por isso. Se foi e ao mesmo tempo fica aqui, dentro de mim, me direcionando a valorizar o que há de mais essencial na vida: as pessoas. 
Minha doce Sophi, como sou grata pela vida que me deu ao habitar em mim! Materializou diante dos meus olhos o sagrado da vida. E me fez perceber que dentro de mim há muito amor para dar.
O quarto está vazio, mas o coração ainda permanece preenchido de amor. Assim, quero finalizar com uma frase que chegou até a mim que me foi muito significativa, ao me permitir uma leitura da dor que tenho experenciado, a dor que me cala e ao mesmo tempo que grita dentro de mim: "O AMOR É UMA FORÇA QUE NOS FAZ IR ALÉM DOS NOSSOS LIMITES HUMANOS. A SAUDADE É UM EFEITO COLATERAL DO AMOR." (Pe. Joãozinho)


Há quem pense que Sophia nasceu para morrer. Eu? Acredito que ela nasceu para viver em mim.

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