sábado, 14 de outubro de 2017

Plantio de Ipê Amarelo em Homenagem à Aurora


08/03/2017 - 16:59

Pais prestam homenagem à filha com plantio de ipê amarelo

O dia 08 de março tem uma simbologia internacional, em virtude do marco na luta feminina pela conquista de direitos e da igualdade, por isso a celebração do Dia da Mulher. Para a estudante Márcia Torres e para o médico Francisco Hélio, a data tem um significado ainda maior. O casal celebraria hoje o primeiro ano de vida da filha, Aurora. Em sua homenagem, eles procuraram o Parque Municipal de Maceió e plantaram, nesta quarta-feira (08), uma muda de ipê amarelo. A partir de agora, a planta se torna uma lembrança especial que vai florescer e recordar a bebê que faleceu ainda na barriga da mãe, três dias antes da data prevista para vir ao mundo.



Márcia e Francisco plantaram uma muda de ipê em homenagem à filha Aurora. Foto: Lucas Alcântara/Ascom Semds
“Todo jardim começa com um sonho de amor”. Esta frase, do escritor Rubem Alves, foi escolhida pelo casal para iniciar a homenagem à filha. Em palavras emocionadas, a mãe descreveu a grandeza dos momentos vividos em pouco tempo por ela e seu marido, desde o casamento até a partida de Aurora. Segundo a mãe, o óbito foi diagnosticado durante a último exame de ultrassom, quando os pais receberam a notícia que frustrou o planejado nascimento. Casados há quase dez anos, eles disseram ter aguardado o momento adequado para conceber a criança.



Plantio de Árvore no Parque Municipal. Foto: Lucas Alcântara/Ascom Semds

“Numa manhã ensolarada de domingo, debaixo de lindas árvores, papai e mamãe se uniram. Você surgiu, fruto desse amor, brilhando como o sol, mas como uma abelhinha, você voou para longe de nós, livre. Você nos alegrou tão brevemente, mas precisava voar. Sua alma leve e pura retornou aos braços do Criador”, leu Márcia Torres.
Sobre a escolha do ipê, a mãe afirmou que não foi à toa e fez a ligação de fatos. A árvore floresce em tom amarelo ouro, a cor do sol. Desta característica, a referência ao nome da criança: em palavras simples, Márcia explicou que Aurora significa o amanhecer, um novo dia, aquela que é clara como o sol. Para viver e florescer, o ipê precisa da luminosidade e, no Parque, assim está. A muda foi plantada em um lugar especial, exposto ao lado de um tronco que abriga bromélias, plantas que são o refúgio do pássaro Pintor Sete Cores, uma espécie rara encontrada na reserva. Para ela, tudo condiz com o objetivo da homenagem: fazer florescer, com os devidos cuidados, o sentimento iluminado trazido pela criança.




O casal seguiu a lenda da árvore Angelin de Morcego e a abraçaram com um pedido. Foto:Lucas Alcântara/Ascom Semds


“Casamos em uma manhã de sol, embaixo de árvores. Nossa ligação com a natureza sempre foi muito grande e queríamos homenagear a nossa Aurora justamente assim: com algo feliz, que não fosse triste. O Parque é um lugar de que gostamos muito e a partir de agora, passaremos a frequentar mais. Vamos ajudar a cuidar do nosso ipê Aurora para fazê-lo florescer. É uma linda lembrança que vamos cultivar”, disse Márcia Torres.
A homenagem foi realizada no Parque Municipal, que está aberto a outras manifestações deste tipo, segundo afirmou a coordenadora da reserva, Karla Gama. “Esta foi a primeira vez que recebemos um pedido deste e o atendemos da melhor forma possível, sobretudo pelo significado. Uma linda homenagem que marcou não somente a vida de Márcia e Francisco, mas também para nós, que estamos diariamente no Parque. Temos diversas áreas para o plantio de mudas e estamos abertos a novas homenagens, como o plantio do ipê Aurora”, explicou.




Hosanna, Hadan, Karla Gama, os pais de Aurora e o pastor que celebrou a homenagem. Foto: Lucas Alcântara/Ascom Semds


Ainda no caminho para o local onde a muda foi colocada, Márcia e Francisco passaram pela trilha onde está a árvore Angelin de Morcego, uma planta de mais de 50 anos considerada a “árvore mãe” que, segundo a lenda, quem a abraça e faz um pedido, é atendido. Os dois assim seguiram o ritual, um momento de descontração diante da emoção que viria a seguir com o plantio do ipê amarelo que batizaram de Aurora.
Do luto à luta
O casal foi ao Parque acompanhado de dois amigos: Hosanna e Hadan Lancaster, que, em abril do ano passado, também perderam o bebê que aguardavam. Juntas, Márcia e Hosanna criaram o Grupo de Apoio à Perda Gestacional e Neonatal Renascer no Facebook. Segundo elas, o grupo foi uma forma encontrada para superar o luto com o apoio de quem passou pela mesma perda.

Um pastor evangélico realizou a celebração durante a homenagem no Parque. Foto: Lucas Alcântara/Ascom Semds
Após o plantio da muda, ao lado de Hosanna e Hadan, os pais de Aurora participaram de um momento religioso com a palavra de um pastor evangélico.

Lucas Alcântara/ Ascom Semds



http://www.maceio.al.gov.br/2017/03/homenagem-no-parque-um-ipe-amarelo-para-florescer-aurora/

Dia Internacional de Sensibilização à Perda Gestacional e Neonatal


Matthew, Zechariah e Hope


Meu nome é Hosanna, tenho 26 anos e essa é a minha história…

Desde infância sempre sonhava no dia que seria mãe. Enquanto algumas meninas pensavam em como seria seu casamento eu já dizia que: “se não casasse, adotaria uma criança de qualquer jeito”, porque o importante era ter filhos. Quase cinco anos atrás quando casei com meu melhor amigo Adão, nunca sonhava que eu seria “uma daquelas” que teria problemas ou perdas. Tenho aprendido que ninguém acha que vai ser uma “dessas”, mas infelizmente acontece bem mais do que imaginamos.

Nos últimos 4 anos tivemos 3 perdas. Duas no inicio de gestação (em Março de 2014, e Fevereiro de 2017). E entre essas duas perdas tive uma perda Neonatal (em Abril de 2016). Como alguém que teve perdas tanto no início como no fim da gestação, posso dizer sem duvidas que são bem diferentes. Uma perda de início de gestação é muito dolorosa! Demais! Bem mais dolorosa do que muitos percebem, pois desde o início amamos aquele bebê. Deixam um impacto enorme em nossas vidas e nunca esqueceremos deles. Meu Matthew e minha Hope sempre serão lembrados e carregados em meu coração. Mas acho quase impossível realmente entender a realidade da perda, da mesma forma que eu vivi, quando é uma perda tardia. Então meu foco hoje será sobre meu filho Zechariah James. Não porque ele seja mais importante que os outros dois que perdi, ou porque o amo mais, mas porque me impactou de uma forma diferente.

Como já mencionei perdi meu primeiro em 2014, então um ano e meio se passaram no qual queríamos engravidar mas não conseguimos (por causa de um desequilíbrio hormonal). Então quando descobri que estava grávida era impossível não nos apegarmos, tínhamos orado por tanto tempo por esse bebê. Foi até em meio dessa espera que escolhemos o nome Zechariah. Pois o nome significa “Deus lembrou de mim” e sabiamos que foi Deus que respondeu nossa oração e nos deu a benção que agora carregávamos.

O que falar sobre minha gestação? No geral foi tranquilo, maravilhoso... Amei cada minuto que tive com nosso filho. Poderia contar sobre a primeira ultrassom ouvindo o bater do seu coração. Sobre como ele era ativo, que de início só via na tela e, com o tempo fui sentindo cada vez mais seus movimentos o dia inteiro. Sobre os enjôos, as mudanças de gostos em comida, como passei quase toda a gestação sem comer um doce se quer porque não gostava nem um pingo deles enquanto grávida. Memórias tão especiais pra mim que sempre guardarei no meu coração.

Fui acompanhada por Doutor Antonio Sergio, e sou muito grata a Deus por ele. Ele realmente cuidou muito bem de mim! Sempre me escutava sem pressa, e tirava todas minhas duvidas.

Ai chegou o grande dia, dia 1 de Abril, 2016. O dia que tudo que parecia estar completamente normal e dentro do controle virou de cabeça para baixo. Começou como um dia normal, fui ver meu doutor, conversamos sobre o próximo passo... Ele escutou o batimento do Zechariah por um bom tempo e o batimento cardíaco dele estava dentro do normal (150). Como já estava com 9 meses ele achou melhor confirmar com uma ultrassom que realmente estava tudo bem.

Literalmente uma hora após estar no consultório do meu doutor, estava fazendo uma ultrassom quase vizinho de onde ele estava. Não precisaram de muito tempo, em questão de poucos minutos estavam me mandando ir para o hospital, pois o batimento cardíaco do Zechariah era de apenas 50 por minuto. Corremos para Unimed onde meu Doutor nos encontrou e fomos logo para cesariana de emergência.

Em meio à toda aquela correria, o medo, e todas as incertezas não poderia deixar de dizer de novo como meu Doutor foi um suporte para mim! Sempre do meu lado me acalmando, e me mantendo informada da melhor forma possível. Tiraram meu filho e levaram imediatamente para a UTI, pois já sabiam que ele estava em estado crítico. Enquanto terminavam a cirurgia comigo meu filho lutava pela a vida dele.

Lembro de estar no corredor do hospital com meu marido, esperando ser transferida para meu quarto, ainda sem saber se meu filho iria sobreviver ou não, quando chegou a nossa mente o Salmos 23 e bem aí começamos a recitá-lo. “...Ainda que eu ande pelo o vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum pois tu estais comigo...” Enquanto isso Zechariah teve 3 ataque cardíacos, e reanimavam ele, porém na 3ª vez ele não resistiu. Ele viveu por quase 3 horas, mas o impacto que deixou em minha vida não poderia ter sido maior se vivesse por 30 anos.

Um fator bem grande em minha história, ou em muitas histórias como a minha, é o estado de choque em que a pessoa fica nessa situação. Têm muitos detalhes que eu queria tanto lembrar, mas não lembro, além de estar recuperando da cesariana, e de ter metade do meu corpo dormente, e de ter acabado de ouvir que meu filho não estava bem, também perdi muito sangue. Em meio de tantos detalhes que mal lembro, ou me contam e eu fico surpresa de não saber; tem uns momentos que nunca na minha vida esquecerei. Está registrado em minha mente de uma forma tão viva que acho que carregarei comigo até a morte. O momento em que vi o meu filho.

Não tive como ver o meu filho até depois da morte dele, depois que permitiram meu marido a banhá-lo e vesti-lo trouxeram meu lindo menino a mim. Nunca vi um menino tão lindo na minha vida, cabelos com cachinhos que puxou do pai, um rosto a cara da mãe. Longo e gordinho, bochechas tão fofas, não parecia um bebê recém nascido e frágil, parecia um bebê forte e lutador. Pesava 4 quilos e media 52 cm.

Já vejo que a dor de uma perda nunca se vai, é uma dor que aprendemos a carregar todo dia conosco. A saudade permanece para sempre, mas aprendemos a lidar com ela. Aprendemos a sorrir quando pensamos neles em vez de chorar. Mas o chorar é necessário, o luto precisa ser vivenciado para que possamos melhorar

Diante disto, muitas pessoas ao ouvirem minha história iriam dizer que ela ainda não tem um final feliz. Pois ate hoje ainda não seguro nenhum filho em meus braços. Mesmo tendo procurado tanto por conceber naturalmente, como por adoção, Deus tem planos maiores pra mim que no momento não incluem filhos. Não quer dizer que nunca terei, só Ele sabe; mas meu final feliz não depende disso, pois já tenho um final feliz.

Meu final feliz é na forma de esperança. Uma esperança que nem toda mãe pode ter, pois sei que por ter aceitado a Cristo como meu Salvador, por ter confiado que Ele, como Deus, veio a esta terra, morreu e ressuscitou para me livrar dos meus pecados e me dar vida eterna,  além disso posso ter 100% de certeza que eu verei meus filhos de novo.
Nem tenho como expressar a minha animação ao pensar no dia que terei esse privilégio de vê-los, abraçá-los e beijá-los.

A Bíblia diz em 1 Tessalonicenses 4:13-18: “Não queremos, porem, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem (morrem), para não vos entristecerdes como os demais, que não tem esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará em sua companhia aos que dorme. Ora ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: Nos, os vivos, os que ficarmos ate a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitaram primeiro; depois, nos os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.”

Sempre sentirei a falta dos meus 3 bebes, e nunca os esquecerei. Mas sou grata a Deus que tenho essa esperança que os verei de novo algum dia no céu.



sábado, 2 de setembro de 2017

Mães de anjos: mulheres falam sobre perda gestacional e luto 'invisível' para a sociedade

  

Já não há mais batimentos cardíacos, apenas um silêncio perturbador. Para a sociedade, talvez o luto seja invisível, mas para quem sofreu uma perda gestacional, não há como superar a ida de um bebê que nem chegou a conhecer o mundo. A reportagem do Cada Minuto ouviu relatos de mães que, recentemente, passaram pela dor de perder os bebês que agora são chamados de anjos.
Falar sobre perda gestacional ainda é considerado um tabu, mas segundo especialistas, o óbito fetal atinge entre 15% e 20% das gestações. A psicóloga Ana Éryka Guimarães, 32 anos, estava com 10 semanas de gestação quando foi surpreendida com alguns sangramentos. Após três semanas, veio à perda do seu filho, a quem chamou de Bernardo.
Éryka teve uma febre e após esperar mais de 1h em um hospital particular, ela foi direcionada para uma ultrassom que identificou que já não havia mais batimentos cardíacos do bebê. 
“Foi terrível, mais difícil que entender que ele tinha morrido, era tirá-lo de dentro de mim. É um pedaço meu que estava indo e eu não entendia isso, a dor da perda não tem como mensurar”, comentou a psicóloga. 
De acordo com ela, durante os três dias que esteve no hospital, não houve a presença de nenhum psicólogo para falar sobre o tema, mas o apoio da família e da sua terapeuta particular ajudou que ela seguisse em frente.
Segundo ela, foram três semanas sem trabalhar, com exercícios terapêuticos e presença da família ao seu redor. “A gente não supera, nós nos adaptamos a viver sem. Junto com o filho que você perde, vai todo o futuro que você tinha sonhado. Só entende quem passa pelo mesmo sentimento”, comentou Eryka, que foi adicionada por uma colega a um grupo de mães que sofreram perda gestacional.
Neste grupo, Éryka ouviu o relato de outras mães que tinham perdido o bebê e foi quando sentiu que tinha sido entendida. “Apesar de eu sentir a compaixão de todos ao meu redor, existia um olhar de exageros. A sociedade acha que a mulher só está grávida quando a barriga fica grande, mas a mãe sente desde a sua primeira formação”, ressaltou.
Para Éryka, a terapia foi fundamental para que ela continuasse vivendo e para entender que mesmo indo embora cedo, o filho ainda é dela. “A terapia me ajudou a entender que existe um sentido dele em minha vida. Hoje em dia tenho dois filhos, sendo que um está no céu”. 
Anjo
Maria Sol Aragão, 28 anos prefere chamar o filho de anjo e compartilhou com a reportagem a dor de perder uma parte dela. As lágrimas e a emoção tomam conta dela mesmo após quase um ano da perda gestacional. Para ela, é muito complicado ser uma mãe órfã e não ser vista como mãe devido à perda.
“As pessoas nos tratam como se aquilo não tivesse acontecido, o aborto para quem não vivencia é difícil e elas acham que a mulher tem obrigação de superar e ter outro filho para substituir, mas como vou substituir alguém? Eu posso ter dez filhos, mas nenhum vai ser meu primeiro filho”, disse emocionada.
(Vídeo de quando Maria Sol descobriu que estava grávida) *veja vídeo no link da matéria abaixo.
“A sensação do primeiro filho, eu não vou ter mais. No hospital, era o sentimento que me dava, de ser uma mãe órfã. Nós somos mães de braços vazios e as pessoas nos menosprezam”, ressaltou.
Foi na madrugada do dia 01 de novembro de 2016 que Maria Sol percebeu que estava com sangramento. Juntamente com a mãe, ela foi para o hospital em União dos Palmares e na unidade de saúde, não havia aparelho de ultrasom. O obstetra de plantão fez o toque que, segundo ela, foi uma invasão ao corpo dela. 
Devido à falta de estrutura e a falta de aparelho que realizaria o exame, Maria precisou ir até Maceió para um hospital particular onde foi diagnosticado que o bebê não tinha mais batimentos cardíacos, mas o hospital alegou que ela estava na carência e a encaminhou para outro hospital particular na capital. 
Desde a madrugada, Maria estava tentando entender o que estava acontecendo. Já no horário da tarde, após passar horas esperando ser atendida no segundo hospital particular, ela voltou para o hospital de União dos Palmares e pagou R$ 800,00 para que fosse feita a curetagem. Segundo ela, foi um total de 36h entre idas e vindas de hospitais.
Para Sol, não há como lidar com o luto. “Agora em agosto faz um ano que engravidei e em novembro faz um ano que eu perdi, mas é como se fosse tudo tão presente, sabe? Eu acredito que mesmo que eu chegue a ser mãe novamente, esse momento e sensação nunca vai deixar de existir. Uma mãe órfã é uma alma sozinha”, disse.
“Eu soube como é ser mãe por quatro semanas que foi o tempo que o anjo ficou dentro de mim. Foi aí que eu soube o que era amor de verdade”, concluiu dizendo que, devido à perda, desenvolveu síndrome do pânico.
Juntas pela dor
Juntas pela mesma dor e com a vontade de ajudar às mulheres que passaram pelo processo de perda gestacional, a acadêmica de nutrição Márcia Torres, 33 anos e uma amiga criaram um grupo online chamado de Amanhecer. 
Com mais de 130 integrantes no Facebook e pouco mais de um ano, mães e pais tem a oportunidade de ter um espaço aberto para falar sobre o luto, questionamentos e principalmente apoio a todas que possuem o mesmo sentimento.  Sendo o primeiro grupo em Alagoas sobre o tema, ele é voltado exclusivamente para famílias que passaram pela perda gestacional.
Segundo Márcia, a sociedade não entende a dor dessas mães. “Nós, quando sabemos que estamos grávidas, imaginamos como era o bebê e perdê-lo, independente de quantas semanas, é acabar com esse sonho. O objetivo do grupo é entender que você não está só”, contou a representante do grupo.
Com encontros presenciais em datas comemorativas, o grupo também conta com duas psicólogas para ajudar e indicar algum tratamento quando o período de luto está se sobressaindo. “Pedimos sempre empatia, que pessoas curiosas acessem nosso blog, mas o grupo é um espaço para compartilharmos apoio entre nós”, disse Márcia.
Com o objetivo de orientar sobre o tema, o grupo Amanhecer recolheu informações e até falas sobre o que não é indicado se dizer ou fazer com mães que tiveram a perda, seja em locais como hospitais ou até conversas entre amigos. Você pode conferir no blog clicando aqui.
A dor não está apenas no corpo
A psicóloga especialista em luto, Jully Barbosa, disse à reportagem do Cada Minuto que devido à perda ser repentina, o psicológico da mulher é afetado e não há como medir dor de luto. “Não existe luto maior ou menor, por exemplo, é mais fácil encontrar um sentido quando uma pessoa idosa morre, mas quando a perda é repentina e violenta para a mãe que perdeu o bebê, se torna um momento difícil para se adaptar a nova realidade”, comentou.
A especialista enfatizou que o luto é um processo normal e singular, porém, quanto mais significativo o vínculo, maior vai ser a dor da perda. Segundo ela, o luto carrega sintomas junto a ele que no primeiro momento são considerados normais: pensar em suicídio, ficar deprimida, ter insônia ou ter sono demais, choro e sintomas físicos. 
“Nos primeiros meses é natural que aconteça isso, mas se com o passar do tempo não houver progressão nos sintomas e nem movimento no sentido de uma melhora, aí sim merece uma atenção especial”, disse Jully que explicou que há dois tipos de luto.
De acordo com a psicóloga os lutos podem ser classificados como normal e complicado. O luto considerado normal é quando a mãe que perdeu o filho passa por sintomas físicos e emocionais, tristeza, choro e dor. Já o complicado é quando a pessoa “finge” que não aconteceu nada e segue a vida, porém, a psicóloga alertou que essa pessoa pode, futuramente, ter outra perda e “desabar”. 
A profissional também disse que a sociedade não gosta de falar sobre quem já morreu e muitas vezes, as pessoas falam o que a mãe que teve a perda gestacional não gosta de ouvir, ela alertou sobre o que não deve ser dito a essa mãe. Segundo ela frases do tipo: “daqui a pouco você tem outro filho”; “foi melhor assim”; “imagina se tivesse nascido doente” e “eu imagino como você está sofrendo” devem ser evitadas.
“Esteja à disposição para ouvir e abraçar a pessoa, isso basta. A mãe precisa ter um tempo para escolher o que fazer com os objetos do bebê. Às vezes, é importante que ela tenha alguma recordação como a marquinha do pé carimbado, algo do tipo. É preciso que seja dado um tempo para que a mãe possa digerir a dor, uma nova gravidez de imediato não é aconselhada”, enfatizou.
O que diz a medicina?
A ginecologista obstetra Jaqueline Cardoso disse que uma das principais causas da perda gestacional são as alterações cromossômicas. De acordo com ela, um embrião sofre alterações que levam ao abortamento. Já o abortamento de repetição também influencia. “Se ela já teve outros abortos pode aumentar o risco dela ter outro, além da idade avançada”.
Tipos de aborto
A obstetra disse que existem tipos de aborto clínico. “Há o aborto em que a mãe elimina o feto de forma completa, neste caso, é feito o exame de controle para saber se existe algum risco para a mãe e existem os casos que o aborto é incompleto que fica material dentro do útero. Neste caso, é preciso fazer a curetagem para retirar o material e ela não ter infecção”, informou.
Além disto, a médica também disse que existem os casos que o embrião fica morto dentro do útero, mas o organismo não elimina. “Aí utilizamos medicações para que haja expulsão e depois a curetagem. Até 20 semanas de gestação ou quando esse peso é menor que 500g consideramos aborto. Então nessa situação, a família não fica com o corpo e sim, o hospital. Quando é mais de 500g ou mais de 20 semanas, a família tem acesso ao corpo para que seja feito o velório”, comentou.
Sobre uma nova gravidez, a médica disse que dependendo do ciclo da mulher, já é possível ter uma gravidez normal após o aborto.
http://www.cadaminuto.com.br/noticia/308994/2017/08/28/mae-de-anjos-mulheres-falam-sobre-perda-gestacional-e-luto-invisivel-para-a-sociedade

domingo, 23 de julho de 2017

Sophia



       Vou compartilhar com vocês a minha história. Melhor, a nossa história - Minha, do meu esposo e Sophia, nosso tão amado anjo. Descobri a gravidez em Agosto de 2015. E consegui realizar a primeira consulta próximo aos 3 meses. Diante disso o médico me orientou a fazer a morfológica só aos 5 meses. No tempo preciso, fiz a morfológica que assegurava que o bebê estava bem, e que nada havia fora do "normal". A ultrasson apenas me deu a certeza de que estava esperando uma menina, contrariando a ultra que havia feito na consulta, onde o médico havia me dito que estava esperando um menino. Foi uma surpresa a mudança, porém, o que importava mesmo é que o bebê estava bem e prontamente já sonhávamos com nossa menininha. E o amor ia se tecendo a cada grama aumentada, a cada chute, a cada sinal da presença daquele serzinho aqui - dentro de mim-, ali - em meio a nós. A gravidez andava tranquila. Nada fora do comum. As mudanças começaram ao 7º mês, quando o médico desconfiou que o bebê não estava crescendo devidamente, e me pediu para fazer uma dopller. Assim, o fiz, e foi constatado que o bebê estava abaixo do peso para idade gestacional. Verificou-se ainda a necessidade de tomar precauções quanto a alimentação devido a identificação de possibilidade de pré-eclâmpsia. Causou preocupações, mas estava crente que me dedicando a uma alimentação mais regulada unido aos cuidados de prevenção da pré-eclâmpsia tudo ia ficar certo. Aí, o médico passou mais uma dopller no 8º mês, foi quando o meu chão que parecia tão sustentável começou a desmoronar: O médico identificou algo de errado no coração do bebê, me pediu mais 3 retornos para confirmação e por fim assegurou que havia uma cardiopatia, que só podia ser confirmada pelo ecocardiograma fetal. Através da enfermeira que me acompanhava consegui a eco em Maceió, e infelizmente veio a comprovação da cardiopatia, que era grave e não dispensava a realização de cirurgia que só poderia ser feita a partir de 3 meses de nascida. A partir daí começamos a buscar informações sobre bebês cardiopatas e cirurgias. A gestação ia se passando e chegou o sonhado dia: 10/05/16 às 10:50h, Sophia veio ao mundo com 41 semanas de gestação, pesando 1.685kg e 41 cm, pequeninha, magrinha...ao contrário de todos aqueles bebês que via ao meu redor tão fortes. A cardiopatia não permitiu que ela ficasse em meus braços e logo foi destinada a UTI. Apesar de ser doído não tê-la nos braços, estava crente que passaria no máximo três dias no hospital e iria para casa, para se amamentar e ganhar os pesinhos necessários para cirurgia, suas malas com suas roupinhas ali eram a comprovação dessa crença. Só que mais surpresas estavam por vir. Fui vê-la e notei que apresentava algumas características físicas que também necessitavam de atenção, tive medo, e fugi até onde pude de comprovar que de fato havia algo mais. Até quando não deu mais para ignorar, a médica de plantão me alertou sobre a necessidade de fazer cariótipo, pois, era verificado que minha pequena tinha a Síndrome de Edwards - trissomia do cromossomo 18 (síndrome rara que possui baixa expectativa de vida devido sua afetação em órgãos vitais), daí entendi a causa da cardiopatia, e ali me vi perdida, sem sustento, confusa, com medo, mas ainda cheia de amor. As perspectivas para síndrome não eram boas. E diante do inevitável, eu e meu esposo reunirmos forças para não desperdiçar o tempo que tínhamos com ela. E decidimos viver do hoje, de cada dia, ao menos lutávamos para ser assim. A síndrome que tanto me amedrontava deixou de ser tão importante, porque eu a olhava e via que o que ela precisa era apenas do amor que eu tinha para dar, como qualquer outra criança. Sophia veio sem exigências, sem presunções, veio e me ensinava que a vida se desdobra na simplicidade. Via vários relatos sobre a T18 e via crianças maiores com a síndrome, apesar de ser raro. E sonhávamos e projetávamos como poderíamos ajudá-la, o que poderíamos fazer para propiciar seu desenvolvimento, sonhava imaginando suas superações. Mas, a cardiopatia era o maior desafio, fragilizava seu pulmão, lhe dificultava o ganho de peso tão necessário para se submeter à cirurgia. Porém, minha menina já demonstrava sua força, com uma semana deixou o respirador e respirava sem ajuda do aparelho, parecia tranquila. No entanto, com 15 dias de nascida, perdeu mais 65g além das 300g que havia perdido na primeira semana, neste dia teve uma crise, refluxo, apnéia, dentre outros acometimentos e a vi fragilizada. Pensei que ia partir, e fui ao seu encontro mais uma vez, afagá-la. E ela superou, se alimentava por sonda, a respiração sempre ofegante, mas indicava melhoras. E começou a ganhar graminhas "que alegria 20g!!!", foi comemorado como se fosse 1kg, cada pequeno ganho importava. A dietinha aos poucos ia sendo aumentada. E chegou ao ganho de 60g. Quando num domingo ao visitá-la fui comunicada que estava apresentando anemia e que precisava de sangue, e outros problemas foram a afetando, na terça-feira daquele mesma semana quando fomos visitá-la como todos os dias, o médico pediu que antes de vê-la fossemos falar com ele, e ele foi doce, humano e claro quanto a situação da minha menina. E ali, doia o limite que a incubadora me imponha - não podia sequer pegá-la nos braços e apertá-la contra o peito afirmando o amor que sentia. E vinhemos para casa, decididos a batizá-la no dia seguinte. Naquela noite falei com Deus e pedi para aliviar a dor da minha pequena. E naquela madrugada, 22/06/16 às 12:30h recebi um telefonema que deixou minhas pernas sem resistência, devíamos ir ao hospital com urgência. E foi o momento em que o abraço foi possível, lembro que tentei desenhar seus traços em minha mente, e a apertei nos braços já sem vida numa tentativa de eternizar aquele afago em mim. A falta de não ter podido abraçá-la enquanto viva é uma ausência doída e persistente dentro de mim. Mas, a fé de que irei reencontrá-la me faz crer que esse abraço ainda será possível. E posso dizer que minha vida foi ressignificada pelo amor e a força que Sophia trouxe para mim. Nós tivemos nossa história de amor. Tempo? 9 meses, mais 42 dias. Como costumo dizer, para alguns pode ser pouco, mas para ela sei que foi muito, pois, foi todo o tempo que teve. A amei a cada segundo, a cada dia, e vivi o que pude viver com ela. Ela nunca veio para casa, mas sinto a ausência dela em cada canto. Acho que faltas sempre vão existir. Mas, sei que ela se foi com a certeza de que o tempo todo foi amada. Partiu me fornecendo muitas lições, incitando-me a me desprender das funcionalidades que por vezes "impomos" aos filhos quando com eles sonhamos. Entendi, que o amor também possibilita o outro ser o que é, e ser amado apenas por isso. Se foi e ao mesmo tempo fica aqui, dentro de mim, me direcionando a valorizar o que há de mais essencial na vida: as pessoas. 
Minha doce Sophi, como sou grata pela vida que me deu ao habitar em mim! Materializou diante dos meus olhos o sagrado da vida. E me fez perceber que dentro de mim há muito amor para dar.
O quarto está vazio, mas o coração ainda permanece preenchido de amor. Assim, quero finalizar com uma frase que chegou até a mim que me foi muito significativa, ao me permitir uma leitura da dor que tenho experenciado, a dor que me cala e ao mesmo tempo que grita dentro de mim: "O AMOR É UMA FORÇA QUE NOS FAZ IR ALÉM DOS NOSSOS LIMITES HUMANOS. A SAUDADE É UM EFEITO COLATERAL DO AMOR." (Pe. Joãozinho)


Há quem pense que Sophia nasceu para morrer. Eu? Acredito que ela nasceu para viver em mim.

domingo, 16 de julho de 2017

Contato

Para participar do grupo no facebook acesse:

https://www.facebook.com/groups/1054518091275463


Entre em contato conosco através do e-mail:

AmanhecerApoioAoLuto@gmail.com




Dia das Mães de Anjos

     O dia das mães é uma data muito difícil para uma mulher que perdeu um filho, por isso decidimos fazer uma homenagem a elas no mês de maio.
     No dia 06/05/2017 realizamos na praia de Jatiúca, em Maceió - AL, um encontro muito especial com as mães de anjos. Na ocasião soltamos balões em homenagem aos nossos filhos e compartilhamos um pouco de nossas histórias.
    Foi muito bom poder abraçar outras mães e saber que não estamos sozinhas, compartilhamos a mesma dor e apesar de nossos filhos não estarem fisicamente conosco ainda somos e sempre seremos mães.
    Segue as fotos do encontro, que este seja o primeiro de muitos que virão.
 
Hosanna e Márcia falando sobre o surgimento do grupo

Depoimento de Mércia Augusta

Momento de abraçar e conhecer outras mães

Mães unidas na dor


Coordenação do Grupo Amanhecer:
Mércia Augusta, Márcia Torres e Hosanna Lancaster (da esquerda para direita)
Colaboradoras do Grupo Amanhecer:
Psicólogas July e Kaanda (da direita para esquerda)

Idealizadores do Grupo Amanhecer:
Márcia e Francisco - pais de Aurora

Idealizadores do Grupo Amanhecer:
Hosanna e Adam - pais de Mathew, Zechariah e Hope


Mães e Pais no momento da homenagem aos filhos - soltura de balões na praia

Homenagem aos bebês das mães de outras cidades que não puderam comparecer ao encontro.

Momento da soltura dos balões


Fotos: Wilma Marinho
 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Reunião com profissionais da secretaria municipal de saúde de Maceió

       Hoje o grupo Amanhecer esteve reunido com representantes da rede de atenção básica do município de Maceió, profissionais do serviço de notificação de óbitos e pastoral da criança do município.
       Compartilhamos as principais dificuldades enfrentadas pelas famílias que perdem bebês, foi um momento muito importante pois estes profissionais podem contribuir com a melhoria do atendimento prestado pelo município.
        Falamos sobre a falta de preparo e humanização do luto nos hospitais e a importância da investigação dos óbitos.
        Ficamos muito gratos pelo convite. Juntas somos mais fortes!

Márcia explicando o surgimento do grupo.


Apresentação da cartilha aos profissionais.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Aurora

       Esse texto eu escrevi logo após Aurora partir, foi no grupo Do Luto à Luta que encontrei apoio e pude compartilhar nossa história de amor. A dor pela perda da minha filha, mobilizou em mim uma força que jamais pudesse pensar em ter, a partir daí tive o desejo de criar um grupo de apoio à perda gestacional e neonatal em Alagoas chamado Amanhecer,  a fim conhecer outras famílias, para então podermos nos unir e juntas nos apoiar.  
               


Meu nome é Márcia, tenho 36 anos e sempre sonhei ser mãe, sou casada há 9 anos, meu marido e eu não tivemos filhos antes porque estávamos esperando o momento certo, melhores condições financeiras, enfim… Em 2014 decidimos que já estava na hora de ter mais um membro na família, afinal a casa parecia tão vazia, sentimos a necessidade de ter um filho para poder compartilhar nossas experiências, ensinar as coisas bonitas que existem no mundo, que apesar de tudo vale a pena viver. Depois de um ano de tentativas descobrimos em julho de 2015 que eu estava grávida, no início não acreditamos, pensei que eu estava com algum tipo de virose, pois eu continuava “menstruando”, mas após uma bateria de exames e de ter descartado tudo, fizemos um beta que deu positivo, repetimos o exame e realmente estávamos grávidos! Finalmente! Foi um misto de alegria, medo, incerteza, queríamos muito, mas ficamos inseguros, será que conseguiríamos cuidar de uma criança? Não tínhamos nenhuma experiência! Resolvemos dar a notícia para os nossos pais quando eu tivesse completado 3 meses, pois eu tive que usar progesterona no início, porque o que eu pensava que fosse menstruação na realidade era sangramento. Após uma viagem que fizemos para comemorar o meu aniversário contamos para todos, divulgamos em todas as redes sociais, queríamos compartilhar nossa alegria.
E a cada semana nosso querido bebê crescia, foram muitas náuseas, noites sem dormir, mas tínhamos a certeza que tudo isso valeria a pena, pois chegaria a hora de ver o rostinho mais lindo do mundo. Em Setembro de 2015 descobrimos que era uma menina, meu marido ficou surpreso! Seria pai de uma princesa! Já ficou imaginando os laços, os vestidinhos e que ela cresceria e teria namorados kkkk… Agora vinha a parte mais difícil, o nome! Desde o início resolvemos que nossa filha teria nome de princesa e após assistir o filme da Bela Adormecida e saber que Aurora significa “início de um novo dia”, “nascer do sol”, “aquela que brilha como o sol”, ficamos encantados pois tinha tudo a ver com nossa história! Nos casamos em uma manhã ensolarada de domingo ao ar livre e na nossa lua de mel, acordávamos de madrugada para ver o sol nascer. Nossa filha seria Aurora! Pois este era o início de uma nova fase em nosso casamento e ela traria mais luz para as nossas vidas! E todos estavam esperando Aurora chegar, foram muitos paparicos, presentes, vestidinhos, lacinhos, nosso mundo agora girava em torno da nossa princesa.
Minha gravidez foi muito tranquila, nós estávamos com saúde e ela crescia e ganhava peso. Eu estava com um pouco de medo, afinal ela ainda não havia se encaixado, mas todos diziam que era normal, minha princesa gostava de ficar sentadinha 🙂 Deixamos tudo pronto para a sua chegada, o berço estava montado, o quartinho decorado e as malas da maternidade já estavam prontas, todas as roupinhas já estavam lavadas, passadas e guardadas em saquinhos individuais.
Com 38 semanas de gestação eu estava sentindo algumas cólicas, mas nada que chamasse a atenção, no final de semana eu não a senti mexer muito, imaginei que fosse porque ela estava grande e com pouco espaço para se movimentar, até que no dia 07/03/2016 na minha última consulta do pré natal, quando minha médica iria marcar a data do parto, ela não ouviu os batimentos cardíacos de Aurora, naquela hora eu gelei, senti todo o meu corpo arrepiar. Minha médica me acalmou, disse que estava tudo bem, que poderia ser um problema no aparelho de sonar dela e nos encaminhou para a emergência obstétrica, somente no segundo hospital é que fui atendida. Durante o percurso, meu marido e eu nos perguntávamos o que poderia estar acontecendo, ficamos atordoados, será que estava tudo bem? Choramos o caminho inteiro imaginando o pior e nos perguntando o que tínhamos feito de errado. Na emergência, a médica do plantão também não ouviu os batimentos e pediu uma ultrassom e mais uma vez a espera e a incerteza de não saber o que estava acontecendo dilacerava nossos corações, até que durante o exame já com outra médica foi constatado que o coração de Aurora já não batia mais. A médica ficou calada não me falou nada, só olhou para o meu marido e balançou a cabeça. Naquela hora eu senti que uma parte de mim havia morrido. Na minha mente cada momento da minha gestação se passou como em um filme, o primeiro dia que eu senti ela se mexer, o ensaio que fizemos na semana anterior no nascer do sol na praia de Jatiúca, os carinhos que o meu marido fazia na minha barriga, as conversas e as músicas que eu cantava pra ela.. Eu não acreditei! Perguntei à médica, por favor, me diga, o coração dela bate? E ela falou, não há batimentos, sinto muito. Eu chorei, como chorei! Não parecia real! O que foi que eu fiz? Que mãe sou eu? Será que eu deixei de fazer alguma coisa, será que eu fiz algo de errado? Não fui capaz de proteger a minha filha! Meu Deus! Foi o pior dia de nossas vidas! Ligamos para a minha médica, mas infelizmente ela tinha viajado, foi muito triste! No momento que eu mais precisei dela ela não estava comigo! Naquele mesmo dia eles queriam que eu decidisse como minha filha seria retirada de mim, sugeriram a indução do parto normal. Eu fiquei com medo, como teria condições de passar por todo o processo do parto e no final não poder ter minha filha? Me recusei! Nos mandaram de volta pra casa para dormir, descansar e pensar melhor, me pediram para retornar no dia seguinte. Não consegui dormir; no outro dia fui atendida por outros médicos, homens que eu nunca havia visto na vida! Senti – me só, abandonada por minha obstetra. Tive vontade de morrer. Eles ficaram tentando entender o que havia acontecido, falaram em diabetes, circular de cordão, trombofilia, hipotireoidismo, várias hipóteses para explicar o inexplicável.
O fato é que no dia 08/03/2016, dia internacional da mulher, eu tive que ser forte, como jamais havia sido,  eu, mulher, havia perdido a mulher da minha vida, a minha princesa, a minha Aurora! Não pude me despedir dela, não a abracei, não senti o seu cheirinho, não ouvi seu choro e não pude amamentá-la. Minha Aurora, assim como o sol nasce e se põe no mesmo dia, chegou e se foi. Naquele dia eu tive que lidar com os sentimentos de vida e morte. Vida porque gestação é vida e morte porque não pude ter minha filha tão amada em meus braços. Faz 5 meses e 9 dias que ela se foi de volta pra o céu e hoje eu percebo que naquele dia 08/03/2016, dia internacional da mulher, eu renasci, pois Aurora significa “nascer de um novo dia” e eu jamais serei a mesma mulher. Agradeço a ela por ter me ensinado a sentir o amor de mãe, Aurora sempre será a minha primeira filha, jamais a esquecerei! Te amo filha!

Márcia Torres Santos

Texto publicado em 2016 no site: 

https://dolutoalutaapoioaperdagestacional.wordpress.com/2016/09/21/aurora-de-nossas-vidas/

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Cartilha do Grupo Amanhecer - Orientações Sobre a Perda Gestacional e Neonatal

Um dos objetivos do grupo Amanhecer é sensibilizar profissionais de saúde e familiares sobre vários aspectos que envolvem a perda de um bebê. A partir do desejo das mães e pais do grupo elaboramos uma cartilha de orientações para que todos possam compreender as aflições e desejos dessas famílias. A mesma foi elaborada segundo as falas compartilhadas e experiências vividas, esperamos que através dela possamos ajudar outras pessoas.



Entrevista com o grupo Amanhecer




No dia 15/05/2017 falamos um pouco sobre o grupo Amanhecer no Programa Bem Assim, na TV Mar de Maceió. Na ocasião explicamos o funcionamento do grupo, compartilhamos as fotos do encontro das mães de anjos realizados na praia de Jatiúca e apresentamos nossa cartilha de orientações sobre a perda gestacional e neonatal.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Encontro de Mães de Anjos e Mães de Bebês Arco-Íris

No mês das mães, realizaremos na praia de Jatiúca, Maceió - AL, um encontro com mães e familiares que passaram passaram pela experiência da perda gestacional ou neonatal.
 Na ocasião faremos rodas de conversa sobre o luto materno e uma linda homenagem aos nossos filhos que partiram precocemente.
Se você conhece alguma mulher que perdeu um bebê compartilhe, será um dia muito significativo no qual soltaremos balões coloridos.


Entre em contato conosco! e-mail: amanhecerapoioaoluto@gmail.com

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